Aceitar o que é e como é!

Crónicas 25 setembro 2024  •  Tempo de Leitura: 2

A maior percentagem do nosso desconforto interno vem do facto de não aceitarmos as coisas como são. Dito assim, parece fácil. Mas não é. Claro que colocamos as nossas expectativas e esperanças em tudo o que nos acontece. Olhamos para uma situação e vemos o seu potencial futuro ao invés de contemplarmos o que nos é dado a ver.

 

Gostávamos que tivesse sido diferente. De ter escolhido de outra maneira, de naquele dia termos optado pelo caminho da direita ao invés de ter seguido em frente. Mas não sabemos. Nem sabíamos.

 

A verdade é que tomamos as nossas decisões com base naquilo que sabemos (ou não sabemos) naquele momento. O problema é que quando nos “arrependemos” ou lamentamos escolhas prévias estamos a fazê-lo já com base no que aprendemos depois de as termos feito ou com base no que sabemos agora.

 

Aceitar o que é (e como é) não significa ter uma postura passiva ou desinteressada. Não significa não querer saber ou não se importar. Significa ter a capacidade de olhar para as coisas exatamente como se nos apresentam e “dizer-lhes” que as recebemos. Que as queremos como são. Que estamos dispostos a ver para além do que nos pode parecer superficial.

 

Vivemos rodeados de objetivos que nunca correspondem ao que já temos. Se temos esta casa, queremos outra. Se temos este carro, queremos outro. Se temos este trabalho, queremos outro. Como se a mera possibilidade de imaginar o nível seguinte nos desse um livre-trânsito para acreditar que o que vem depois é sempre melhor.

 

Mesmo que consigamos melhores versões da vida que temos agora só a conseguiremos valorizar se soubermos ver o bom que já nos é dado a viver.

 

Se continuarmos a correr para alcançar o que não existe corremos o risco de perder o que já temos. E isso vale para todas as situações na nossa vida.

 

Lembro-me sempre das crianças que conheci em Moçambique. Pobres. Não tinham sapatos. Nem roupa. Nem comida. Nem casa ou saúde. Mas eram felizes porque não queria ter nada mais do que aquilo que já tinham.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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