Todos, Todos, Todos, Imaculados!

Crónicas 10 dezembro 2024  •  Tempo de Leitura: 4

O risco que corremos nestas festas da Virgem é ficarmos sem palavras, admirados com as maravilhas extraordinárias realizadas nela por Deus. Maria cheia de privilégios, desde a Imaculada Conceição até à Assunção, pode ter pouco ou nenhum impacto na nossa existência. Podemos sentir-nos tão longe desta realidade que nada fazemos para nos aproximar dela.

 

Deus não concede privilégio extraordinários a algumas pessoas. Ele oferece continuamente a cada um de nós uma proposta de plenitude de vida. Cabe ao ser humano aceitar ou não esta oferta, como escreve Paulo no início da sua Carta aos Efésios:

 

«Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.» (Efésios 1, 3-4)

 

Ser imaculado, isto é, irrepreensível, sem mácula, é a condição de quem, como Maria, a Imaculada, soube acolher plenamente esta proposta de amor, concretizando assim o plano de Deus para a humanidade. Por isso, na liturgia, pedimos ao Pai que nos conceda “também a nós, através da sua intercessão, ir ao vosso encontro em santidade e pureza de espírito”.

 

Em novembro de 2020 a partir da biblioteca do Palácio Apostólico, o Papa Francisco disse-nos como imitar Maria: «Uma oração simples, mas que significa colocar a nossa vida nas mãos do Senhor, para que Ele nos guie. Todos podemos rezar assim, quase sem palavras. Simples: “Senhor, o que Tu queres, quanto Tu queres e como Tu queres”. Estamos inquietos, queremos sempre as coisas antes de lhes tocar, queremos-nas imediatamente. A vida não é assim: esta inquietação dói. A oração sabe acalmar a ansiedade, sabe transformá-la em disponibilidade.»

 

A oração exige um silêncio que abra o coração a Deus, à escuta da sua palavra.

 

O silêncio é o encanto secreto de Maria, a expressão da sua grandeza, porque exprime toda a sua pureza e humildade, a sua fé e o seu amor, a sua disponibilidade para ouvir e guardar na memória do coração. Maria é o protótipo de quem escuta a palavra de Deus e a valoriza.

 

O silêncio de que falamos não é puramente exterior, mas um silêncio mais profundo que vai mais além e limpa o coração de muitos pensamentos que o atormentam. Estamos a falar de um silêncio que cria premissas para a escuta e para a reflexão.

 

E a sociedade de hoje tem uma dificuldade extrema em fazer e viver o silêncio. São horas diante dos ecrãs, TVs, telemóveis, computadores! São miúdos e graúdos que não abdicam dos seus fones nos ouvidos! É todo o colorido de natal exterior! São os mercadinhos e mercadões para as boas festas! É ruído e Colorido constante...

 

Onde, como Maria, a disposição para viver o silêncio? Onde a vontade de transformar a ansiedade em disponibilidade?

 

Com a Imaculada Conceição, a Igreja apresenta Maria de Nazaré como modelo perfeito deste itinerário.

 

E não será isso que nos pede de novo o Advento?

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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