Amor Próprio, “prémio ou castigo”?

Crónicas 17 dezembro 2024  •  Tempo de Leitura: 3

Numa época marcada por uma tendência coletiva para o egoísmo, pode falar-se de amor próprio? 

 

O tempo de Advento é um período muito rico de conteúdo e simbologia. Neste tempo, celebramos a última vinda do Senhor Jesus no fim dos tempos e preparamo-nos para o Natal, recordando os acontecimentos históricos que o precederam.

 

Neste período litúrgico os batizados reavivam o desejo de encontrar o Senhor, que já veio há 2000 anos, que vem a cada momento e que virá gloriosamente no fim dos tempos. E esperando-o vigilantemente, com a lâmpada acesa, símbolo mais eloquente do Advento.

 

Nós devemos viver este tempo procurando guardar no coração o desejo vivo e ardente de encontrar o Senhor, acolhendo-O nas numerosas visitas diárias e rotineiras que Ele nos reserva, sobretudo nas simples, naquelas que não têm nada de especial.

 

Procuremos, pois, prestar mais atenção às pequenas coisas de cada dia para as fazermos da melhor forma possível, com paixão e amor, com paciência e serenidade, cuidando de servir a vida onde ela acontece. O quotidiano, de facto, tem um horizonte de eternidade e não deve ser banalizado porque é o único lugar onde encontramos o Mistério. Jesus encarnou o quotidiano com o seu nascimento.

 

E podemos começar pela atenção a si próprio, pelo amor próprio.

 

Amarmo-nos com moderação ajuda-nos no relacionamento com os outros e melhora o nosso dia a dia. Não tem nada a ver com narcisismo, que é um sentimento fechado no orgulho, na vaidade e na insegurança.

 

Quando Jesus formulou o mandamento do amor ao próximo, colocou o amor próprio como medida deste amor: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». O que significa que não se pode amar o próximo se não se amar primeiro a si. O amor próprio é mais que legítimo.

 

Não há oposição entre a relação com os outros e a relação consigo próprio. Pelo contrário, é apenas a relação positiva consigo próprio que permite uma relação positiva com os outros, tal como as relações felizes com os outros alimentam a nossa auto-estima.

 

Além disso, o amor próprio nem sempre é tão frequente como se imagina, pois muitos vivem na não aceitação da sua própria realidade, querendo ser diferentes do que são e procurando outro lugar no mundo, outra família, outro corpo, outra pessoa, outro eu. E nesta perspetiva, amar-se, pelo que realmente se é, pode ser também um grande ato de humildade e de reconciliação com os próprios limites.

 

E não será isso que nos pede de novo o Advento?

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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