O novo nome da pobreza

Crónicas 11 fevereiro 2025  •  Tempo de Leitura: 3

As circunstâncias da vida, por vezes, colocam-nos em situações que levam a escolhas e comportamentos que nunca imaginávamos que teríamos de fazer.

 

A atual circunstância, de guerras e pobreza, desafia-nos e pode ser fonte de reflexão e de mudança a diferentes níveis. Estamos habituados a um estilo de vida consumista no que diz respeito a bens, coisas e até mesmo a relações de trabalho, amizade e amor.

 

Para onde nos está a levar este caminho? Vivemos com mais paz? Mais esperança? Mais felicidade? A vida pede-nos uma mudança, uma nova abordagem à história humana, sobre o que é essencial e o que é supérfluo.

 

Precisamos de ir contra a corrente! Precisamos de resgatar o valor da sobriedade que já esquecemos e que é tipicamente evangélico. Somos chamados a afastar-nos da lógica, mais ou menos reconhecida, de que uma pessoa tem valor pelo que possui e não pelo que é, para fazer a difícil transição da exterioridade para a interioridade.

 

Isto tem muitas repercussões na nossa maneira de pensar, de ver e julgar os outros, de educar os filhos, de escolher o que comprar, de viver a nossa relação com os bens, e até com as redes sociais. É-nos pedido um maior discernimento e sobretudo um regresso aos valores essenciais que dão profundidade à vida e são fundamentais para o crescimento humano.

 

A precariedade em que vivemos pode abrir-nos à partilha, que é o novo nome da pobreza evangélica. Partilhar é um apelo a sair de nós mesmos para perceber o outro, para poder ver, para nos fazer próximos, como na parábola do Bom Samaritano. É fazer de nós próprios coração e mãos para quem nos é próximo: talvez um parente, um vizinho ou alguém distante. Partilhar é entrar no dinamismo divino do excesso, do exagero por amor, não da poupança.

 

Com o pouco ou muito que somos ou temos, todos nós podemos crescer neste estilo de vida. Como crentes, devemos abrir novos horizontes de humanidade e solidariedade a partir das nossas famílias e comunidades, vivendo concretamente esta fraternidade evangélica de partilha para o bem de todos.

 

Precisamos de vencer a desconfiança, o medo. É necessário abrirmo-nos à confiança que constrói uma rede de solidariedade e proximidade. Deixar de ouvir aqueles profetas da desgraça que veem apenas inimigos e não irmãos, exigem a conversão dos outros e não a sua própria. Matam a esperança num futuro melhor.

 

Este é o desafio do Evangelho, para o homem de ontem e de hoje. Este é o caminho para reconstruir a Humanidade.

 

Partilhemos, pois.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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