Estou abraçado à minha zona de conforto?
Os abraços preenchem-nos. Dão “enchimento” emocional aos nossos contornos humanos e dão-nos sempre uma certa faísca de esperança, mesmo quando tudo parece ser caótico.
Parece-me, no entanto, que temos tido pouco tempo para abraçar e ser abraçados das maneiras certas. Abraçamos o tempo como se fosse nosso; abraçamos o dinheiro; abraçamos os lugares onde vamos; as fotografias que tiramos “para partilhar”; abraçamos o trabalho muito demoradamente e, no final do dia, já nos sobra pouca energia para abraçar as pessoas que fazem parte deste Rio Maior onde todos desaguamos diariamente.
Refletindo, ainda, sobre esta nossa capacidade de inverter o que abraçamos, seguimos pela vida como quem anda à boleia; não sabemos muito bem quem somos nem do que gostamos, mas se nos dizem para ir por aqui; ou por ali… vamos. E ousamos ir abraçando o que não é nosso, mas dos outros. O que não são as nossas verdades, mas as dos outros.
Há, ainda, uma incrível habilidade que conseguimos repetir e aprofundar (às vezes durante meses ou anos): abraçar a nossa zona de conforto. Apertamos os braços da vida à volta de uma rotina mais ou menos tranquila, mas previsível. Sabemos, exatamente, o que não é bom para nós, mas repetimos. Ignoramos. Aguentamos mais um bocadinho.
Sabemos que mais à frente pode haver uma página em branco, por estrear, com coisas novas e diferentes, mas olhamos para o mais-do-mesmo com uma certa nostalgia porque, pelo menos, aquilo já conhecíamos. Era mau, mas conhecido. Não nos fazia bem, mas também não nos deixava feridos de morte.
Quando foi que nos ensinaram a acreditar que merecemos assim tão pouco?
Quando foi que nos disseram que a zona de conforto tem de ser para sempre sob pena de se perder tudo, ou de nos perdermos?
Quando foi que nos fizeram crer que não há nada a fazer e que mais vale deixar passar o Carnaval em que o mundo desfila, enquanto abanamos a cabeça (ou a cauda?) e seguimos de cabeça baixa?
Presta atenção. Quem quer que tenha sido, enganou-te. E enganou-nos. Não é só isto, a vida. Não é só isso, a vida. Tu és muito mais e a vida também pode ser.