É possível colocar-me no lugar do outro?
A empatia é a capacidade de compreender a dor do outro sem medo de se envolver. Não é uma simples compreensão racional, mas uma partilha autêntica do sofrimento. Jesus, diante do túmulo de Lázaro, chorou com os que choravam, mostrando-nos que a verdadeira proximidade não está em dar respostas imediatas e assertivas, mas em permanecer próximo, mesmo em silêncio.
Perante a morte de alguém, - tenha ele tido uma vida farta ou medíocre, uma vida alegre e de sucesso ou uma história de sofrimento e fracasso, ou mesmo sendo igual na cultura e na religião ou não -, temos duas hipóteses: ou entramos num dinamismo de empatia pelo qual sinto que a sua vida, é também minha - como consequência não serei levado a odiar nele o que vejo em mim. Ou então o risco é que a fragilidade do outro não dê origem a nenhuma resposta boa, mas a respostas violentas e desumanas.
Podemos falar de uma ética da fragilidade. Esta está enraizada na empatia. Neste movimento de identificação que nos leva a sentir o sofrimento ou a fragilidade do outro como nosso. As atitudes exigidas por esta ética são pelo menos duas: por um lado, o reconhecimento da fragilidade que habita em nós, o que nos permite acolher também a fragilidade que habita nos outros; por outro, o cuidado com as pessoas feridas pela fragilidade. Este é o potencial humanizador inerente à fragilidade.
Esta ética não é apenas uma teoria espiritual, mas um caminho que todos podemos seguir: Ouvir sem interromper. A tentação de oferecer soluções é forte, mas muitas vezes a pessoa que está à nossa frente só precisa de ser ouvida, acolhida;
Não julgar. A empatia não é pena, mas compreensão. Quando paramos para avaliar o que o outro sente, entramos verdadeiramente no seu mundo;
Estar presente. A empatia constrói-se na continuidade, na presença constante, mesmo quando não há palavras para dizer.
Quando olho para a obra de Miguel Ângelo, La Pietà, não consigo entender, compreender em toda a sua plenitude, o sofrimento de uma mãe. Imaginemos, pois, uma mãe que perdeu um filho. Nenhuma palavra será capaz de preencher o vazio que ela sente. No entanto, no momento em que alguém acolhe a sua dor sem tentar apagá-la, simplesmente estando lá, ouvindo e partilhando, algo de extraordinário acontece: o sofrimento encontra um espaço para ser expresso, um espaço para ser acolhido, um espaço para ser partilhado. Este é o âmago da empatia.
Vivemos numa sociedade acelerada e egocêntrica, onde o sofrimento do outro corre o risco de ser ignorado ou, pior ainda, considerado um incómodo. Mas a vocação do cristão é ser um sinal de esperança, de escuta, de presença. Tal como Jesus com Lázaro, podemos escolher parar, ouvir e chorar com aqueles que choram.
“Hoje em dia, ser revolucionário significa tirar
mais do que adicionar, abrandar mais do que acelerar,
significa dar valor ao silêncio, à luz,
à fragilidade, à doçura.”
Só altero o revolucionário, pelo empático desta poema de Franco Armínio. A empatia não muda a dor, mas muda a forma como a vivemos.