Há muito mais para além do que se vê!

Crónicas 20 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 2

Queremos esquecer-nos que há mais mundo para além do nosso. Convém-nos acreditar que tudo aquilo que está ao nosso alcance é, exatamente, tudo aquilo que existe. Somos pouco corajosos e quase nunca nos atrevemos a ver o que está para além dos nossos muros. Das nossas barreiras. Dos nossos limites. Não temos sede alguma de novidades, de paisagens nunca antes vistas ou de encontros com desconhecidos. Queremos e preferimos o que já vimos, já conhecemos, já sabemos e já controlamos. Sabemos que não há lugar para falhanços monumentais caso não se corram riscos. Sabemos que não há lugar para desilusões caso não se conheçam pessoas novas, caso não se amem pessoas novas. No entanto, sabemos pouco sobre o que está para lá daquilo que é nosso e daquilo que por nós já foi visto. Com os nossos medos feitos bandeiras, vamos colocando escudos à frente de tudo o que se ergue como novidade. Demitimo-nos da surpresa, da esperança, do querer viver para alcançar mais. Para alcançar tudo. Assim, convencemo-nos que a alegria é isto a que nos habituámos. Não é. Além disso, estar habituado não é sinónimo de estar bem. Mais ainda: estar habituado a fazer determinada coisa, não quer dizer que a esteja a fazer bem. Estamos habituados a ser o que somos e, muitas vezes, somos piores do que devíamos. Com o hábito de ser pouco, perdemos capacidades e, acima de tudo, perdemos oportunidades. Esse é outro dos nossos problemas de estimação. Julgamos que as oportunidades são pequeninos pássaros que poisam na nossa vida para a tornar melhor. Estamos enganados. As oportunidades são pássaros, sim, mas precisam de ser perseguidos, conquistados. As oportunidades não voltam, perdem-se. Não sabem o caminho se não soubermos agarrá-las.

 

Há mais para além daquilo que estás a ver. Há mais mundo. Há mais pessoas. Há mais oportunidades. Há mais paisagem. Há muito mais para ver. Mas a luz de cada coisa não brilha só porque tu queres. É preciso desbravar florestas, palmilhar estrada, cair, esfolhar joelhos, trepar árvores e montanhas. Só depois de haver caminho é que faz sentido haver luz. E não te esqueças: se não fores atrás dessa luz, ela também não virá atrás de ti.

tags: Marta arrais

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail