Não somos nós a preparar o presépio para Deus nascer...
Ganharíamos muito em compreender porque é que as leituras bíblicas do tempo do Advento e do Natal insistem na dimensão visiva. Nós vemos o próprio Deus, o Deus transcendente, fazer-se próximo, e este é o motivo da alegria. Como dirá o prólogo do Evangelho de João: «Contemplámos a sua glória».
Com efeito, o Natal é a antiabstração, é o oposto das generalizações vagas. Cada um de nós, com as interrogações que são as suas, com a serenidade ou o tumulto que traz dentro de si, com a situação concreta de vida que experimenta, é chamado a ver Deus. É chamado a contemplá-lo naquele Deus connosco, naquele nascituro em carne e osso, naquele Filho que nos é dado.
Em Jesus de Nazaré, Deus não vem de maneira indefinida: Ele vem ao encontro de mim, de ti, de cada ser humano, dando-nos, na fé, a possibilidade de nos tornarmos filhos de Deus.
A mulheres e homens frágeis, imperfeitos e atormentados como nós, Deus oferece a possibilidade de ser filhos seus. Ou seja, de viver uma vida que não seja unicamente a expressão da nossa carne e do nosso sangue, mas que se revele como consequência do impacto da vida divina.
Neste sentido, não somos nós a fazer o presépio, para que Deus nele nasça: é Deus que prepara as condições de um nascimento para cada um de nós.
[Card. José Tolentino Mendonça | In Avvenire]