Refundador da humanidade

Crónicas 17 abril 2019  •  Tempo de Leitura: 1

Para colher da melhor maneira os textos sagrados que a tradição cristã nos fará de novo ler ao longo desta que é a mais santa das semanas, é importante ter presente que foram escritos quando Jesus era totalmente insignificante para o mundo e para a cultura.

 

Nós, hoje, interpretamos estas narrações a partir da referencialidade histórica que Jesus adquiriu nestes dois mil anos.

 

Ora, quando os discípulos começaram a narrar o destino de Jesus, com o desejo de lhe preservar a memória e de a compreender melhor, ninguém, exceto eles próprios, lhe atribuía a mínima importância.

 

Em nenhum canto do vasto Império Romano Jesus gozava de qualquer consideração, nem era recordado ou de alguma forma estava presente. As vidas narradas por Plutarco ou por qualquer outro cronista secundário eram infinitamente maiores do que a sua vida esquecida.

 

Os seus próprios seguidores não tinham a certeza de que aquela existência pudesse interessar alguém para lá do círculo de pessoas que tinham vivido a sua morte, num misto de naufrágio e de esperança irredutível. Mas aquilo que era insignificante para o mundo, tinha adquirido para eles um significado incalculável.

 

Na aventura histórica a que a comunidade dos crentes estava a dar início, Jesus emergia com clareza crescente como decisivo motor de sentido e protagonista de uma beleza capaz de refundar a nossa humanidade. É esta a boa notícia que a presente semana nos desafia a (re)descobrir.

 

[D. José Tolentino Mendonça | In Avvenire]

Artigos de opinião publicados em vários orgãos de comunicação social. 

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