Procissão de luz
Escrevo esta crónica enquanto revejo mentalmente as imagens de dois acontecimentos destes dias: o 13 de Maio em Fátima e o Crisma da minha sobrinha. Duas celebrações um tanto ou quanto diferentes e ao mesmo tempo, bastante semelhantes.
Impressiona aquele mar de luz durante o Terço e a Procissão das Velas… Impressionante também, a "procissão" de luzes na autoestrada nº 1 em direção a norte. Fazia nesse momento a minha viagem de regresso a Lisboa. Depois de Condeixa, uma fila interminável de automóveis na direção contrária. Tinha terminado a Procissão, à pouco mais de meia hora. Também a "segui" na rádio… Tenho bem frescas estas imagens "peregrinas"…
Impressionou-me a multidão de jovens e adultos no Crisma da vigararia da minha igreja natal. Mais de 200 crismados acompanhados por familiares, amigos e padrinhos. Permanecem na minha mente as imagens de felicidade da minha sobrinha…
«A "fé ainda move montanhas"!?»
Neste dois acontecimentos, as mesmas dúvidas, as mesmas perguntas e as mesmas respostas. Muitos destes cristãos não voltarão a uma igreja na próxima semana. Não participarão na Eucaristia, nem rumarão a um outro santuário. Uns quantos sabem da sua "situação irregular" perante a Igreja e os seus ensinamentos. A esta "irregularidade" não atribuo só os recasados ou em união de facto, mas penso na falta de acolhimento de familiares; na falta de perdão para com amigos; em situações de herança mal resolvidas; em trabalho mal pago; nos idosos abandonados; na formação dos filhos apenas para o ter e o vencer a todo o custo; e tantas outras situações…
No entanto, Deus ama-nos a todos! Ele é o Bom Pastor! E é por isso que qualquer cristão deve saber acolher a todos. Perante esta "humanidade ferida" que ainda se volta para Deus, através dos sacramentos ou da devoção à Virgem Mãe, todos temos o dever de apresentar a Boa Nova, o Evangelho.
Recordo o episódio de Tomé que quer tocar as feridas do Mestre: Jesus vai ao encontro do seu discípulo; faz com que lhe toque nas feridas; faz com que Tomé tome consciência que aquela carne do Filho de Deus não pode amar se não estiver ferida; faz perceber que a Ressurreição estabeleceu que o que resta e o que salva é o amor que alcança a máxima dedicação.
Acabei a viagem de carro mais motivado. Talvez, porque a partir da saída de Fátima, também eu vinha naquela "procissão" de luzes na autoestrada nº 1, desta vez rumando a sul, em direção à capital. Como eu me senti parte desta "humanidade ferida" na procura da presença (sacramento) do Bom Pastor.