A «Era da incerteza»

Crónicas 26 janeiro 2021  •  Tempo de Leitura: 3

Atravessamos uma fase em que a incerteza é a condição vivida pelos adolescentes e jovens, com particular desconforto. Eles veem o horizonte, as perspectivas de futuro, as relações pessoais num cinzento espesso. Situação particularmente difícil também, para as famílias, que se encontram a gerir a responsabilidade educativa numa condição de particular solidão: não há possibilidade de partilhar este compromisso, quer com a escola, agora longe da dinâmica quotidiana; quer, por precaução, com os avós ou com a família alargada de tios, primos e amigos. Em tal situação, é fácil cair na apatia, no desânimo e sentir um certo mal estar psicológico e muito desconforto social. 

 

Dos jovens, lembrámo-los sobretudo para criticar a sua falta de responsabilidade no uso das máscaras, nos ajuntamentos, quase que para estigmatizar o desejo de vida e de festa que eles têm e que resiste às proibições. Estes comportamentos e atitudes são sinais para mostrar aos adultos que não podemos trancá-los numa caixa e deixá-los lá - enquanto desenham um arco-íris com a frase "Vamos ficar todos bem" - até o fim da pandemia. Se é verdade que “para educar uma criança é preciso toda uma aldeia”, que redes de apoio estamos a construir neste momento? Que modelos estamos a oferecer-lhes?

 

Estes são tempos difíceis para todos e, certamente, cada um de nós está a pagar o preço da incerteza do ponto de vista económico, físico e psicológico, alguns até de uma forma dramática. No caso da escola, porém, essa condição torna-se quase "extrema": de 16 de março de 2020 até hoje houve uma contínua "dança" de prescrições, restrições, reaberturas, e novo encerramento, em que muitas não parecem acompanhadas de medidas adequadas…

 

Voltar a pensar é o primeiro desafio a que somos chamados. Porque o que está a acontecer nesta "era de incerteza", está a reescrever radicalmente as instruções da vida. E as instruções para vivermos juntos. Voltar a pensar, porque o contrário, é uma ociosidade estéril. 

 

Alguém comparou este tempo ao tempo do deserto do povo de Israel: o incómodo de encontrar o caminho certo, a murmuração contra os líderes, o esforço de celebrar o culto. Uma crise de fé gravíssima, na qual, Israel gradualmente se torna consciente da fidelidade de Deus naquela prova. Um teste extremo que muda e purifica a relação com Deus, tornando-a mais "essencial". Somos pois, chamados a um discernimento comunitário, onde haja menos ansiedade no desempenho e mais reflexão para remover o que confundimos como prioritário e necessário, mas que não é. Discernir para destacar o que realmente importa.

 

Só nesta coerência de fidelidade ao essencial é que, como um todo, "como uma aldeia", poderemos ajudar os nossos jovens a crescer.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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