Qual é a tua estrela?
Que luz seguimos? Tenho para mim que muitas das vezes gostamos de ser enganados pelas luzes da iluminação de Natal. Sim, por essas.
Este ano, vi um pouco por todo o lado, enormes presentes que se iluminavam com o cair da noite. Aliás, faz-me um pouco de confusão tanta iluminação que nada tem a ver com o nascimento de Jesus e os valores associados a este acontecimento tão importante para todos os seres humanos.
Escrevo sobre luz e iluminação, porque celebramos este domingo o Dia de Reis, a Festa da Epifania.
Refaço a pergunta inicial: Que luz procuramos? Nas redes sociais, logo após o Natal e mesmo depois destas festas natalícias, circulam muitas brincadeiras e anedotas sobre os quilos que ganhámos; sobre o voltar ao normal nos costumes e na praxis, pois a época da solidariedade, bondade e fraternidade já passou; os votos para o novo ano de saúde, amor e paz já se esqueceram no dia 2 de janeiro… Tudo isto é um pouco o reflexo do que somos ou do que damos mais valor.
Os Magos seguiam uma estrela. E quando esta desaparece, não hesitam em perguntar onde deveria nascer Jesus, a Verdadeira Estrela. Diz-nos o evangelho que Herodes ficou perturbado. E com ele toda a cidade de Jerusalém. Do povo aos sacerdotes, dos Fariseus aos Saduceus, dos escribas aos levitas.
Creio que aconteceria o mesmo hoje. Também nós ficaríamos perturbados. Por causa das nossas estrelas, por causa das nossas iluminações…
Qual é a nossa estrela? Quais são as grandes inspirações que norteiam a nossa vida?
Não basta saber quem é Jesus, onde nasceu, falar dele... É preciso encontrá-lo vivo e verdadeiro no nosso quotidiano e nos nossos irmãos. Então a vida ilumina-se e converte-se. E Jesus torna-se a Estrela do nosso caminho e veste-nos com a sua luz, ao ponto de fazer da nossa pobre existência uma sua manifestação, uma sua epifania.
Se nos deixar-mos guiar por esta vamos ao encontro dos grandes desejos do nosso coração. Jesus ensina-nos a não nos contentarmos com uma vida medíocre; a não nos deixarmos enganar pela iluminação exterior, pela aparência, pela grandeza que o mundo oferece, mas a discernir o que é bom e verdadeiro, e que Deus nos quer dar.
«Do Oriente veio em procissão de esperança
O melhor da nossa humanidade.
Os três magos caminharam à luz de uma estrela nova,
Recém-nascida,
Mansa,
Como uma criança.
A procissão faz-se em passos de dança,
E a estrela só pode ser olhada com olhos puros,
De cristal,
Com alma enternecida,
E coração de natal.
Por isso,
Não a viu Herodes,
Não a viram os guardas,
Não a viram os sábios,
Que arrastavam os olhos por velhos alfarrábios.
Viram-na os magos,
Pegaram nela à mão,
Levaram-na aos lábios,
Deitaram-na no coração.
Vem, Senhor Jesus.
O mundo precisa tanto da tua Luz.»
António Couto, bispo de Lamego