Nem só "o sangue dos mártires é a semente dos cristãos".
É com um misto de tristeza e alegria que vivo a partida de D. Manuel Martins, quinze dias depois de D. António Francisco dos Santos. Tristeza porque ambos fazem falta à Igreja portuguesa; alegria porque nem só "o sangue dos mártires é a semente dos cristãos", como disse Tertuliano. A vida destes dois homens é alimento para a fé de todos os que acreditam em Deus e esperança para os não-crentes.
É impossível separar D. Manuel da diocese de Setúbal e de toda a problemática vivida naquela península do continente português nas duas décadas seguintes ao fim da ditadura. «A sua palavra livre e libertadora, inspirada no Evangelho, ergueu-se com toda a clareza contra a injustiça que atingia particularmente os mais pobres», disse D. José Ornelas, atual bispo da diocese sadina.
Numa altura em que vemos, cada vez mais, alguns cristãos atacarem o Papa Francisco, D. Manuel é como que um "farol" que deve iluminar e orientar o nosso acreditar e a nossa ação, porque ele foi um homem das periferias, mesmo antes de Bergoglio "recentralizar" a missão social da Igreja, onde o pobre está em primeiro lugar.
Também eu partilho da opinião de D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, em que o legado deixado por D. Manuel é a capacidade da Igreja mostrar a verdade com coragem e testemunho: «Sempre o vi nessa perspetiva, um homem que não se calou perante aquilo que era necessário dizer e creio que isto é um legado que a Igreja não pode perder».
O Papa Francisco precisa de pastores com este dinamismo. Pastores que não se acomodam e que têm a coragem de se colocar ao lado dos mais frágeis, do mais pobres e dos mais necessitados. Pastores que não se "aburguesam", seja à sua condição de vida, onde existe uma certa estabilidade conferida pela instituição, seja às impostações dogmáticas, morais e litúrgicas.
Os últimos ataques ao Papa vieram de teólogos e cardeais ultraconservadores. Portanto, um grupo de católicos integristas.
No passado dia 28 de junho, aquando do consistório para os novos cardeais, Francisco disse: «Jesus não os chamou para se tornarem 'príncipes' na Igreja, mas para servir como Ele e com Ele.» Curioso é que muitos daqueles teimam em serem tratados como os príncipes desta terra!
Ficará para uma próxima crónica estas duas visões de Igreja que têm andado em 'conflito': a de Francisco e a de alguns cardeais. Um Papa com um nome de um santo do século XIII e um título, o de 'príncipes', atribuído aos cardeais no mesmo século.
D. Manuel Martins e D. António Francisco do Santos, intercedei por nós.
Uma atuante semana.
[Foto: Diocese do Porto]