O que falta
Deus manifesta-se em Jesus que nasce. Mas a grande pergunta é: como reconhecê-lo? Como reconhecer a passagem de Deus na nossa história? Como reconhecer a sua epifania diária? Com que gramática, de que modo ou com que guia podemos reconhecer a fantástica presença de Deus na nossa vida? Porque Deus está. Fez-se próximo da nossa carne.
O facto é que nos falta a capacidade de o reconhecer. Herodes, por exemplo, estava em melhor posição do que os magos para saber que tinha nascido o rei dos judeus. Tinha sábios na sua corte e a Escritura que dizia: «O Messias nascerá em Belém». O que é que então lhe faltava? Tinha todos os instrumentos, toda a sabedoria, todo o conhecimento, mas Jesus nasce e ele não o sabe. A notícia foi-lhe levada por forasteiros idos de longe. O que é que faltava a Herodes, e o que é que nos falta? Perguntemo-lo com franqueza.
Falta-nos a atenção. A atenção como primeiro dever espiritual. A atenção como aquele género de pobreza que têm aqueles que esperem, aqueles que habitam a imanência, que intuem que cada instante não é só tempo que corre, mas é o umbral de uma revelação.
[José Tolentino Mendonça | In "Avvenire"]